quinta-feira, 20 de agosto de 2009

FAZENDO A CARNE FELIZ



FAZENDO A CARNE FELIZ
Max vai dormir todos os dias às quatro da manhã, após ficar horas trancado em seu quarto acessando sites pornográficos na internet. Ele sabe que isso é errado, mas ele ñ consegue controlar seu instinto animal pecaminoso. Acorda às seis em ponto e de joelhos faz sua oração matinal. Liga o rádio para “ñ perder a hora”, segue em direção a cozinha, toma um café muito rápido, um banho mais ligeiro ainda, veste uma roupa qualquer que estiver passada e segue em direção ao seu trabalho. Lembra-se que tem um pai e uma mãe e antes de atravessar o portão dá um grito de despedida: “Tchau, pai! Tchau, mãe!”

Max se considera cristão, mas ñ gosta de carregar sua bíblia, prefere seu mp5 no volume máximo para enfrentar duas horas dentro de um ônibus lotado até seu emprego. Quando acorda um pouco mais cedo, volta cinco pontos de ônibus para conseguir ir sentado no coletivo. Durante a viagem, quem ñ tem mp3 tem jornal, ou ouvido apurado para ouvir a conversa alheia (de duas pessoas em meio a umas cinqüenta). Max ñ tá nem aí pras pessoas à sua volta que ainda ñ tiveram a oportunidade de ouvir do plano de salvação que Deus preparou com tanto carinho para a humanidade. No seu mp5 em volume altíssimo ele ouve a mais nova sensação da música gospel brasileira.

Duas horas diárias dentro de um coletivo, lembrando-se do sermão de domingo à noite. O Espírito Santo aprisionado e triste constatando uma epidemia dos últimos dias: a multidão que passou da escravidão para a liberdade em Jesus que volta a ser escrava novamente. O Espírito Santo vendo possibilidades dentro de Max, e ele cego com seu mp5 tapando-lhe os ouvidos, os olhos, a boca, a mente, o entendimento...

Alguém tenta entrar no coletivo com uma bíblia debaixo do braço e vociferando que todos ali vão para o inferno. Os passageiros expulsam o pobre diabo, se divertem com a cena e tentam convencer suas mentes e coração de que ñ precisam de Jesus e nem de igreja para ficarem loucos e fanáticos.

Max se sente envergonhado, mais uma pá de cal na sua tentativa de entregar um folheto ou fazer um convite para que alguém conhecido vá até a sua igreja. Seu colega de trabalho viaja do seu lado sem saber que ele é cristão. Aliás, no seu trabalho ninguém sabe da fé que Max diz professar.

No seu setor existem oito pessoas e só duas falam de Deus: uma é testemunha de Jeová e outra diz que o único jeito de chegar até Deus é através de Maria. Os outros funcionários toleram, mas sempre que podem falam de seus santos, padroeiros e divindades. Max sabe que precisa se expressar e evangelizar aquele povo, mas nenhuma palavra sai de sua boca. Tem sido assim durante três anos.

Ele tem visto colegas de trabalho de seu e de outros setores virarem católicos, espíritas, testemunhas-de-jeová, mórmons... mas nenhum fala de Jesus. Nem ele nem ninguém.

Max volta do trabalho e segue a mesma rotina em direção à escola. Antes da galera ir pra sala de aula (quando vai), um choppinho no bar, um cigarrinho de tabaco, outro de maconha no campus, um tequinho mais tarde no banheiro. E Max segue com a galera, pra ñ ficar de fora e ser tachado de careta. Onde está Jesus, Max?
Ele sabe dos malefícios físicos e espirituais do álcool, tabaco, maconha e cocaína, mas ñ tem coragem de expor isso para sua turma. Quem se lembra do que o professor ensinou?

Cintia, namorada de Max, o convida para ir a sua casa depois do intervalo para namorar. Diz que seus pais estão viajando. Max aceita. Cintia dirige seu carro do ano com Max no carona falando coisas desconexas e rindo muito alto. Max retorna um sorriso amarelo e sente calafrios sabendo onde tudo isso vai dar. Lembra-se das mensagens de seu pastor em diversos congressos para a juventude. Resolve tomar outra dose para criar coragem de fazer o que sabe que é errado aos olhos de seu Pai.

Cintia consegue entrar com dificuldade na garagem, arranhando a lateral do carro, rindo bastante da situação. Abre o porta-luvas e deixa cair de propósito no colo de Max várias camisinhas que acabou de comprar. Pede para ele pegar todas e sair logo do carro.

Entram na casa e começam a se beijar, Cintia puxa Max pelo braço em direção a seu quarto. Max treme de medo e Cintia pergunta se é sua primeira vez. Max diz que ñ, o pior é que ele ñ está mentindo. Cintia sabe do envolvimento dele com sua irmã durante seis meses e o que faziam dentro da faculdade. Max está suando frio e pede para ir ao banheiro. Tranca a porta e de joelhos começa a pedir perdão a Deus e pede para que Ele o livre dessa situação, mas em seu coração Max quer seguir em frente. Como Deus pode atendê-lo? Como Deus pode ouvir alguém livre por Jesus que quer se vender ao diabo? Max espera uma intervenção divina e nada acontece. Decide então prosseguir com sua podridão, achando que Deus ñ vai ligar. Abre a porta e se depara com Cintia nua na sua frente, é a deixa para quem quer se vendar a morte. Antes de ir para a cama com ela, Max vê uma bíblia aberta no livro de salmos e um crucifixo pregado na parede mostrando um Jesus eternamente crucificado para aquela casa e para o que aqueles moradores chamam de família.

A consciência de Max pesa, o Espírito Santo grita, clama, geme, implora para que ele ñ siga em frente, mas o garoto de 19 anos decide fazer sexo com aquela menina de 16. Ato consumado, Cintia vai até seu armário e despeja na mesa uma quantidade absurda de cocaína para ambos ingerirem. Max se sente aliviado depois de tanta crise de consciência.

Duas carreiras gigantescas são feitas por Cintia. Primeiro ela depois ele. Ambos ficam eufóricos novamente e partem para uma nova seção de orgia. Mas antes que comecem, sentem-se mal e caem no chão tendo convulsões. Suas bocas começam a espumar, o vômito sufoca suas gargantas. Com o choque, acabam expelindo fezes e urina no chão do quarto. Um cheiro de doença e morte invade o ambiente.

Tentam gritar, falar, ligar para alguém, mas ñ conseguem pensar direito, ñ conseguem controlar os movimentos de seus braços, pernas, bocas... Até que sofrem um colapso e ficam estirados, nus no chão.

A empregada chega na manhã seguinte, chama uma ambulância mas já é muito tarde para aqueles jovens. Onde está Jesus, Max?

Ele estará contigo durante a eternidade?

Pai da Julia, em algum lugar do Rio de janeiro por volta de junho de 2009

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