Hoje foi um dia maravilhoso, onde saímos mais uma vez para um estágio com (quase) todos os alunos do curso básico de teologia promovido pela igreja na qual sou membro desde 25/3/2007. Dessa vez fomos recebidos pela Igreja Batista em Jardim William, Engenheiro Pedreira, Rio de Janeiro, sob a direção do Pastor João Gabriel da Rocha.
Culto na rua, EBD, visitas em lares, evangelismo pessoal, nas ruas e em casas, em bares, e onde precisasse, distribuição de folhetos e de Novos Testamentos... Muitas decisões positivas, poucas rejeitando Jesus como Salvador. Mas o que importa é que tudo foi feito com direção espiritual e direção pastoral.
Tive que sair antes do culto da noite por causa do meu trabalho. Estava escalado para pregar no culto da tarde e não ministrei tudo que havia planejado. Fiquei meio sem graça de comentar, mas não gosto desse modelo de pregação ao ar livre – no meio da rua principal passando ônibus e quase ninguém para ouvir, apenas os membros da igreja em questão e os alunos do curso. O ideal seria numa praça e não numa calçada. Talvez esteja sendo rabugento, exigente demais para quem nunca pregou antes. O fato é que decidi não levar adiante tudo que escrevi no esboço de minha mensagem.
Acho que o problema começou na verdade aí, minha mensagem, e não a mensagem de Deus. O principal deixei por último: o preparo espiritual. E paguei o altíssimo preço.
Mas a sensação que tive foi de estar jogando palavras ao vento, quando corria os olhos em redor do local e não via ninguém que não fosse cristão. O foco da mensagem era para não cristãos. Poderia até improvisar, mas eu não quis. Foi uma decisão minha, não sei se foi correta (vou acertar minhas contas com Deus), mas após 10 minutos resolvi encerrar algo que estava programado para 25 minutos.
Gostei muito das pessoas, dos irmãos, enfim da igreja e do local. Foi um dia abençoado, graças a Deus!
Abaixo segue o esboço mais encorpado que preparei para a mensagem de hoje:
Diário de um Tolo
Sou casado, tenho uma filha com quase dois anos de idade, moro em São João de Meriti, e sou membro da Primeira Igreja Batista em Éden.
Tive pais normais, zelosos, cuidadosos, dedicados, afetivos durante minha infância normal. Recebi uma boa educação, boa alimentação – como de tudo. Dizem que crente come muito, então eu nasci pra ser crente. Mas a razão pela qual dizendo isso é que a alimentação me ajudou muito na minha saúde, pois dificilmente fico doente e há mais de três anos não tenho uma simples gripe.
Meu pai ñ deixava faltar nada em casa e dava o que de melhor conseguia. Tinha bom emprego, ganhava bem. Ele passou necessidades e ñ queria e ñ deixou os filhos passarem fome. As comidas do almoço de domingo preferidas da família era bife c/ fritas ou galinha assada. Para quem passou necessidades como meu pai isso era o paraíso, para eu e meus irmãos era um evento especial.
Porém, quando a adolescência chegou, meus pais ficaram distantes e ausentes de decisões importantes e CRUCIAIS.
Cresci em um lar onde Deus foi esquecido, o único ensinamento que recebi de meu pai sobre Deus foi que ñ devemos nos ajoelhar diante de nenhuma imagem nem adorá-las.
Meu pai nasceu em um lar cristão, minha avó e bisavó eram da Assembleia de Deus.
Meu pai conseguiu ficar mais de 40 anos afastado de Deus, vivendo com a “boa vida” que teve.
Experiências ruins de uma criação sem Deus: brigas constantes nos últimos 10 anos de vida de meus pais, discussões, humilhações, xingamentos, falta de respeito, levantar a voz para o outro era comum, ñ havia pedidos de desculpas. Meu pai cometia uma falta contra os filhos, reconhecia que errou, mas ñ se desculpava.
Com isso sempre tive dificuldades em pedir desculpas, de assumir responsabilidades e de dar satisfação da minha vida para alguém.
Repeti 3 vezes de ano no colégio, 3 anos jogados fora, me atrasei tanto que acabei terminando o 2º grau com minha mãe, na mesma sala, na mesma turma num colégio público (nada contra) após estudar toda a vida em colégio particular.
Vivi uma vida sem compromisso com nada nem comigo mesmo, usei drogas (o que ganhei com essa vida: perda de memória e síndrome de pânico – hoje virou algo menos ruim: transtorno de ansiedade), tive uma vida promíscua, acabei fazendo pequenos furtos. O pior é que em determinada noite chegamos a nossa casa eu, meu irmão mais novo e alguns amigos com um monte de CDs roubados, falamos para nosso pais que “pegamos” em uma feira de CDs e eles simplesmente acharam engraçado!
Saí de casa e ñ voltei mais, sempre discuti muito com minha mãe – nossa relação sempre foi de amor e ódio. Até que me casei sem as bênçãos de meus pais. Minha esposa me arrastava pra igreja, odiava ir à igreja, zombava de Deus, achava perda de tempo e que eu ñ precisava, só os outros. Acreditava que minha vida estava sob meu controle! Nem em Deus acreditava.
Ouvia várias pregações, mas mantinha meu coração duro para Deus, ouvia vários apelos para aceitar Jesus... Até que eu ouvi uma mensagem que me marcou e que vou compartilhar.
Lc 15.11-31 – A parábola do Filho Pródigo
"E (Jesus)disse: Um certo homem tinha dois filhos;
E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;
E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;
Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.
E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças.
E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
Mas ele se indignou, e não queria entrar.
E saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;
Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.
E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas;
Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se."
Jesus é fantástico! E as parábolas que ele contava iam de encontro ao que via e percebia à sua volta. Aqui ele faz uma analogia do filho rebelde arrependido com os pecadores rejeitados pela sociedade que paravam para ouvir admirados seus ensinamentos. E o filho mais velho que se achava justo remetia aos fariseus e escribas que viviam tentando desmoralizar o Mestre.
O filho rebelde tinha tudo e jogou fora, ñ deu valor a herança preciosa que possuía. Voltou para a casa reconheceu sua necessidade, carência e dependência do pai. Caiu a ficha.
Aqui Jesus implicitamente nos ensina que o Pai é Deus; o filho rebelde, todos nós; a terra distante, este mundo de ilusão; e a casa, vida com e sob orientação de Deus.
Ef 2. 8,9: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se glorie"
Ninguém merece! É pela graça, é um presente de Deus! Você recebe um presente porque alguém resolveu te dar, ñ porque se esforçou pra ganhá-lo!
Já pensou a cena: no céu alguém diz “estou aqui porque fiz isso e aquilo”, outro talvez diga “dei muito dinheiro aos pobres, por isso estou aqui”, outro: “nunca matei ninguém...” o céu ñ seria céu, seria inferno!
Todas as religiões dizem o que você precisa fazer para ser salvo, herdar a vida eterna. O cristianismo diz que você ñ precisa fazer nada, pois Jesus já fez, já morreu em teu lugar naquela cruz. Basta que vc reconheça isso e o aceite como Senhor de sua vida.
Todos que estão no inferno estão lá porque rejeitaram a Deus, estão lá porque merecem. E todos que estão no céu estão lá porque ñ merecem..
Eis que os caminhos do homem estão perante os olhos do SENHOR, e ele pesa todas as suas veredas. Provérbios 5:21
Um tempo depois houve uma situação de adultério de meu pai – minha mãe nunca o perdoou, guardou mágoa e rancor até definhar: recebeu por conta disso diabetes, hipertensão, até que seus rins ñ funcionavam mais. Hoje, por coincidência, na EBD com os adolescentes falamos sobre o perdão.
Até que aconteceu a morte da minha mãe: uma semana de sofrimento no hospital em que hoje trabalho. Negligência minha (ñ saquei que ela havia tido um acidente vascular cerebral mesmo após ela ter me ligado para minha casa e ñ ter conseguido falar coisa com coisa comigo pelo telefone, e dos hospitais que ela passou (a ambulância do SAMU demorou um dia inteiro para chegar à casa de meus pais e socorrer minha mãe, quando chegaram disseram que era pressão alta; no PAM onde ela trabalhava disseram a mesma coisa; no Carlos Chagas – onde ela veio a falecer- idem; até que quando ela não conseguia mais expressar nenhuma palavra ou gesto foram nos dizer que ela teve um AVC que tomou quase todo o cérebro dela).
Caí na real (como o filho pródigo ao deixar a casa do Pai), precisou minha mãe morrer pra eu acordar pra vida.
8 meses depois meu pai partiu também: um mês de sofrimento no hospital Souza Aguiar. Só que desta vez aconteceu tudo ao contrário do que ocorreu com minha mãe. Meu pai foi muito bem atendido e só faleceu porque de verdade chegou a sua hora – todos nós temos mesmo um tempo limitado nessa terra, portanto vivamos no limite!
Meu pai precisava de um tempo para se reconciliar com Deus, para ter um quebrantamento em sua vida. Ele já havia se voltado a Jesus, mas precisava tratar de pequenos detalhes que impediriam dele ir ao encontro de Deus justificado.
Batizei-me num domingo, ganhei uma bíblia de presente dele – foi seu último presente - e de minha esposa, com uma dedicatória que ñ tem preço para mim. No dia seguinte ele faleceu.
Meu adiamento em voltar para a minha casa e em voltar-se para o Pai Celestial só piorou ainda mais as coisas. As coisas poderiam ser diferentes.
Pergunte a qualquer cristão se quando ele se converteu, aceitou Jesus, o fez na hora certa ou se perdeu tempo, demorou? “Se eu soubesse teria feito isso antes” é o que você vai ouvir.
Jesus deu a vida por todos nós, ñ faça como meu pai que deu só alguns anos de sua vida para Cristo, ou eu que desperdicei 33 anos de minha vida, para só há pouco tempo dedicar-me a Deus. É injustiça com Deus dar apenas instantes, pouco anos ou momentos de sua vida a quem morreu por você.
A hora é agora! Já! Ñ dá pra perder tempo! Ñ sabemos o dia de amanhã.
“O tolo aprende com os próprios erros, o sábio aprende com os erros dos outros.” Sejam sábios. Você ñ precisa colocar a cabeça debaixo de um trem em movimento pra saber se a experiência é ruim ou ñ, do mesmo modo, você ñ precisa passar por experiências ruins pra saber que são ruins. Aprenda com os mais velhos, converse com os mais experientes, peça conselhos...
Você ñ precisa passar pelo que eu passei, pelo que meus pais passaram, pelo que o filho pródigo dessa história passou.
Somos todos rebeldes de berço, quando pecamos contra Deus e passamos uma procuração pro diabo dando essa terra para ele tomar conta.
“Ñ podemos mudar o que fomos, mas podemos mudar o que somos e o que poderemos ser”
O cristão ñ tem passado, só presente e futuro! Deus se esquece do que fizemos...
Contei algumas coisas de meu passado apenas para ilustrar o que é uma vida sem Deus, mas ñ contei tudo de ruim que fiz em respeito a você. Não sou simpatizante de "tristemunhos" em que alguém conta tudo de ruim que fez, gasta uma hora falando de como fez o diabo feliz e dedica só um minutinho pra dizer que Jesus mudou sua vida. Se Deus ñ se lembra dos detalhes de sua vida anteriror, pra quê ficar remoendo isso todas às vezes? Uma só já basta e ponto final!